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Fatores decisórios e o possível impacto do Brexit

Published: quarta-feira, 15 de maio de 2019
Angela Jackson
Há uma série motivos para transferir a sede (HQ) de uma empresa. Deve-se considerar com cautela se os benefícios superam o risco.

Não é surpresa que o aumento dos lucros seja um fator decisivo para as realocações de sedes, mas quais são os outros fatores e a que preço? Nesta publicação do blog, abordamos detalhadamente os fatores de incentivo e dissuasão comuns que estimulam decisões de realocação de sedes e como determinados eventos, como o Brexit, têm causado um impacto específico. Nossa próxima publicação, a segunda desta série, orientará sobre o que as empresas devem estar fazendo para proteger sua mobilidade global  em resposta ao Brexit e o que as empresas de gestão de realocação (relocation management companies, RMCs) podem fazer para ajudar. 

Pouco depois do referendo do Reino Unido sobre a União Europeia (UE) em 2016, uma pesquisa de opinião da KPMG com 1.300 diretores executivos (Chief Executive Officers, CEOs) mostrou que 76% pretendiam realocar suas sedes. Em outra pesquisa de opinião com 1.200 diretores de empresas, realizada pelo Institute of Directors (IoD), 29% dos entrevistados consideravam que, por causa do Brexit, talvez sua única opção seria transferir as operações do Reino Unido. Embora as percepções possam ter mudado, isso mostra como os eventos mundiais podem ser catalisadores para mudar a mentalidade e encorajar realocações de sedes. A seguir, analisamos os elementos envolvidos e o papel que eles desempenham em uma decisão de realocação.

Impostos 

As isenções e os incentivos fiscais oferecem oportunidades para que as empresas aumentem sua lucratividade. Mudar para um país ou cidade com alíquotas de impostos mais favoráveis, ou até mesmo isenções fiscais, é uma estratégia realizada pelas sedes quando o custo da realocação é muito compensado pela redução no pagamento de impostos. Isenções fiscais são oferecidas pelas cidades como um incentivo para atrair negócios para a região, o que, por sua vez, traz investimentos, talentos e requisitos para os serviços locais. 

A incerteza em relação ao Brexit, em especial a como serão as alíquotas de impostos e as políticas tributárias, os custos adicionais de impostos/fluxo de caixa e a documentação prevista certamente têm contribuído para as decisões de sair do Reino Unido. A Panasonic, fabricante japonesa de equipamentos eletrônicos, já mudou sua sede europeia do Reino Unido para os Países Baixos, com os impostos e o trânsito livre de pessoas e bens, preocupações que estão relacionadas ao Brexit, influenciando a mudança. A Sony, sua concorrente, retirou sua sede do Reino Unido para ajudar a evitar problemas alfandegários relacionados com a saída da Grã-Bretanha da UE.

Cidades como Dublin são atraentes para as empresas, com clima de investimento acolhedor e isenção fiscal.

Talento

Em um mundo cada vez mais digital, as empresas devem considerar a postura mutável das gerações mais jovens e a cultura de digitalização para se manterem atuais, inovadoras e competitivas.

Isso tem gerado uma demanda por engenheiros de software e técnicos para lidar com a implementação de novas iniciativas, novos produtos oferecidos, a emergência em mercados digitais e o processamento da segurança dos dados, por exemplo, o que é fundamental para o sucesso de muitas empresas. E isso motiva as empresas a transferir suas sedes para regiões onde há oportunidade, perto de banco de talentos de graduados, inovação e redes importantes. Muitos gigantes das mídias sociais e start-ups de tecnologia, por exemplo, transferiram suas sedes para São Francisco, atualmente dominada pela tecnologia.

Além de se transferir para uma região repleta de talentos, as empresas estão respondendo à concorrência feroz em que o banco de talentos está exigindo uma melhor qualidade de vida. A mudança da sede da Expedia de Washington para um local de 16 hectares em Seattle, que possui instalações de nível internacional e bastante espaço ao ar livre com conveniências como academia de ginástica e centro de bem-estar, poderia ser considerada um exemplo de como atender à demanda crescente por um ambiente de trabalho melhor.

A mudança de bairros afastados para o centro da cidade é um contraste gritante com a era posterior à Segunda Guerra, em que as sedes se mudavam de regiões centrais para grandes parques de escritórios nos subúrbios, com estacionamento gratuito e proximidade com áreas verdes onde os trabalhadores queriam morar. As gerações mais jovens agora preferem trabalhar e morar na cidade, perto de oportunidades interessantes de entretenimento, interação e networking, além de ótimas conexões de transporte, e fazer parte do ‘centro’ dos acontecimentos. Um fabricante multinacional de bebidas, por exemplo, mudou sua sede localizada nos subúrbios para um endereço no centro da cidade. Segundo informado, a mudança foi motivada pela proximidade com um banco de talentos graduados, transporte e tecnologia para atrair talentos diversificados e com conhecimento tecnológico. McDonald’s também realocou sua sede de 47 anos, que era afastada, para um local no centro da cidade, “mais perto das tendências que estão moldando o futuro da sociedade”  com restaurantes famosos, vida noturna e espaços de trabalho modernos.

Em relação ao Brexit, as incertezas sobre o trânsito livre (de trabalhadores talentosos dentro e ao redor da UE) são considerações fundamentais para empresas com sedes no Reino Unido. Complexidades relativas à previdência social são importantes para empresas que têm interesse em assegurar que estejam oferecendo o acesso certo aos benefícios e à continuidade para seus colaboradores.

Novas oportunidades observadas

Locais novos podem oferecer oportunidades que atualmente não existem para a empresa. Uma boa justificativa para a realocação é quando a oportunidade de crescimento da receita supera o custo e o risco da transferência. Essa opção é pertinente para as start-ups, já que elas dispõem da capacidade de se mudar para um local anteriormente inviável, com instalações melhores, acesso a novos mercados, etc. 

Os fatores de incentivo surgem quando a economia do local atual está diminuindo ou se tornando desfavorável para o setor da empresa. Os custos operacionais, por exemplo, o custo de fazer negócios ou de propriedade/aluguel de uma determinada área, variam entre as regiões e podem impactar bastante a receita da empresa. 

Em alguns setores, finanças, por exemplo, a decisão de algumas empresas de mudar sua sede é para permitir a oferta de serviços ininterruptos depois do Brexit. Nas finanças como um todo, Dublin parece ser o destino mais popular como local pós-Brexit, seguido por Frankfurt, Luxemburgo e Paris.

Empresas que estão interessadas em fazer a realocação por causa do Brexit considerarão lugares onde elas já têm operações e onde haja uma infraestrutura que beneficie seus setores. O acesso aos mercados da UE e o trânsito livre de bens, comércio e pessoas são elementos importantes na oportunidade que uma empresa tem de prosperar. Amsterdã oferece localização, competitividade e uma excelente qualidade de vida. Berlim está atraindo empreendedores do Reino Unido com custos baixos de estabelecimento, institutos de ensino superior e infraestrutura de qualidade, e um banco de talentos jovens diversificados, além de ser considerada por muitos como a nova capital das start-ups da Europa. Paris está facilitando a regulamentação para atrair bancos internacionais.

Há, no entanto, motivos para ficar que poderão superar as oportunidades associadas à mudança, como:

• O local tem um papel importante na identidade, personalidade e percepção de uma marca por parte de seus clientes e investidores
• O local é o lar das partes interessadas, do(s) proprietário(s) ou é importante para eles
• Imagem da marca – por exemplo, transferir uma sede para receber isenções fiscais – pode ser interpretado como evasão fiscal e poderá ser prejudicial para a imagem da marca
• A empresa fornece uma solução exclusiva para aquele país ou uma solução que depende daquele país

Fusões e aquisições

As fusões e aquisições podem exigir a transferência de sedes à medida que as empresas buscam alcançar economias de escala. Nessas transições, os escritórios excedentes, em especial a(s) sede(s), podem ser realocados. Dois exemplos são o Burger King, transferindo sua sede para o Canadá, e a Budweiser, que foi para a Bélgica. Além disso, as empresas buscam estratégias para reduzir seus encargos tributários e aumentar a lucratividade. Um exemplo é a inversão corporativa, na qual as empresas (principalmente norte-americanas) são reincorporadas no exterior depois de serem adquiridas por uma empresa estrangeira que se beneficia de governança corporativa menos rigorosa e alíquotas de impostos mais baixas. Embora seja uma estratégia jurídica, a inversão corporativa pode correr o risco de transmitir má impressão entre os clientes, que podem concluir que a empresa está tentando sonegar impostos.

Resumo

Ao longo desta publicação, abordamos as principais razões para as empresas optarem pela realocação de suas sedes: impostos, talentos, novas oportunidades e fusões/aquisições. Sejam quais forem as especificidades, os principais motivos incluem tornar um negócio mais lucrativo, assegurar sua capacidade de sobreviver, dar continuidade às atividades comerciais e garantir longevidade e competitividade. O Brexit é um exemplo de evento mundial que tem gerado incerteza em relação a muitos desses motivos, com o comércio, o trânsito de pessoas, os impostos e muitos outros fatores sendo considerados como riscos muito significativos para as empresas correrem, ameaçando sua capacidade de dar continuidade aos negócios como de costume.

Eventos mundiais, em combinação ou novas ocorrências, podem, portanto, fazer com que muitos desses fatores sejam questionados. Na próxima publicação do nosso blog desta série, falaremos sobre o que as empresas devem fazer agora para preparar suas equipes de mobilidade global e o que esperar de seus consultores de gestão de realocação, tendo em vista o possível impacto do Brexit sobre as realocações de sedes. Também abordaremos o efeito sobre os países anfitriões anteriores e futuros quando as empresas realocam suas sedes. 

Em breve: Outras publicações da série

• Mudando a sede da sua empresa: Como se preparar para o Brexit e proteger seu programa de mobilidade
• O efeito da realocação em grupo nos países anfitriões anteriores e futuros